domingo, 31 de janeiro de 2016

Nairóbi: primeiras impressões

Acho que a maioria das pessoas diz que "ama viajar", e realmente ama. Afinal, sair da rotina e ver novos ambientes, pessoas, degustar comidas e bebidas pela primeira vez, é um estímulo revigorante! Nos últimos anos, tive a oportunidade de viajar um pouquinho pela América do Sul, Europa e África, foram 16 países, cada um me ensinando alguma coisa nova... 
Agora, estou no Quênia há 10 dias, em Nairóbi, atuando como voluntária em um projeto social e fazendo uma pesquisa na área de Psicologia com os refugiados do projeto. Aqui, sem dúvida, estou aprendendo muito mais que na maioria dos outros países, não só pelas condições de vida contrastantes com as que estou acostumada, não só pela radical fuga da "zona de conforto", não só pelas histórias de vida que venho tendo contato, nem só pela experiência de reestruturar um projeto social em outro país... é por tudo isso, e mais um pouco. É  porque aqui moro no meio de uma comunidade, uma favela mesmo, e com isso tenho acesso à rotina dessas pessoas, coisa que a gente não tem quando viaja à turismo. E sabe de uma coisa? Essa é minha parte favorita! Claro que é incrível apreciar as obras do Louvre, saborear um bacalhau português e virar a noite experimentando cervejas belgas em Bruxelas, mas criar uma rotina num lugar tão escasso de recursos e condições de saúde, mas tão rico em energia e vida, é algo que não troco por uma semana em nenhum resort do mundo! 
Isso é vida real, são pessoas lutando pela sobrevivência, pois desde que o sol nasce, até muito depois que o sol se põe, elas estão lá, tentando encher seu Matatu pra mais uma viagem, tentando vender suas verduras, roupas ou serviços, pra poder se alimentar, alimentar seus filhos... O que mais me chama atenção no meio disso tudo? A música! Por todo lugar, há música! No Matatu (transporte popular) há sempre grandes caixas de som com música africana, nos fundos da nossa casa ouvimos tambores e cantos com frequência, e até no projeto, pois o escritório é ao lado da cozinha, e a cozinheira canta quase o dia inteiro! Essa cozinheira, aliás, é uma refugiada do Congo que foi atacada por três homens das forças armadas de seu país quando tinha 14 anos. Quando seu pai denunciou o ataque, a milícia se vingou atacando toda sua família, estuprando alguns e matando uma das irmãs da menina. Isso quer dizer que mesmo com tanta dificuldade, o que eu vejo é que todos superaram isso e são felizes? De forma alguma. Acho que sim, eles estão tentando lidar com isso de uma forma incrível, pois comumente nos deixamos abater por coisas muito menores. Mas ao contrário de uma visão romântica de toda essa situação, vejo muitos rostos tristes, quase depressivos, muitos corpos curvados, retraídos, talvez assustados... Vejo muita coisa, que vou poder analisar melhor após minha pesquisa, onde vou aprofundar alguns aspectos psicossociais com esses refugiados, e entender um pouquinho melhor o pensam, o que sentem, o que precisam falar. 
E aprender, claro. Porque nesses dez dias, venho aprendendo muito, todo dia!

Foto tirada pela janela do escritório. A placa azul ao lado do poste de madeira é onde moramos.